Em todos os momentos da História, seja na Antiguidade, na Idade Média, ou no nosso tempo, são as mesmas paixões e os mesmos desígnios que inspiram os humanos. Entender a História é entender melhor a natureza humana.

25 de fevereiro de 2013

O preço do sucesso

Stille, o telefilme alemão de que falei no post anterior, baseado no livro Cleaver, de Tim Parks, suscita-me uma outra reflexão. Em Stille, três membros de uma família (mãe, filho e filha) gravitam à volta do quarto membro, um jornalista famoso, o pai. Todos vivem na sua sombra, não há lugar para mais ninguém brilhar, a não ser esse pai, egocêntrico e narcisista, que tudo sacrifica em nome do seu sucesso. Atingida a idade adulta, os filhos têm uma grande dificuldade em encontrar o seu próprio caminho e, mesmo quando se julgam libertados, construindo a sua própria carreira, fica sempre a suspeita de que o conseguiram apenas por serem filhos de.

Muitas vezes me pergunto se este tipo de narcisismo é essencial para se atingir a fama. Não há dúvida de que o talento é igualmente necessário, mas, na vida dos famosos, há quase sempre algo que é sacrificado. E, quando se tem filhos, a coisa pode tornar-se problemática (ver também o conflito de Jane Austen).

Qualquer famoso constrói a sua carreira à custa de muito esforço. Mas esse esforço implica a total concentração na sua pessoa, o que pode gerar egoísmo e incapacidade para superar contrariedades e desilusões, ou seja, baixa tolerância às frustrações. Pergunto-me se o caso do atleta sul-africano Oscar Pistorius não terá a ver com isto. E que dizer de Lance Armstrong, que, ao superar uma doença grave, entendeu não haver limites para que atingisse os seus fins?

Claro que também há muitas pessoas de sucesso que são altruistas e carinhosas com os seus. Mas o sucesso implica sempre um grande investimento em si próprio. Aí, não há volta a dar! Resta saber a que preço.


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