Em todos os momentos da História, seja na Antiguidade, na Idade Média, ou no nosso tempo, são as mesmas paixões e os mesmos desígnios que inspiram os humanos. Entender a História é entender melhor a natureza humana.

7 de julho de 2015

Da incapacidade de estabelecer ligações




A propósito de um homem que, na Tailândia, se dedica a dar banho a cães de rua, logo se levantaram as críticas moralistas: num país, onde há tanta pobreza, vai o homem preocupar-se com rafeiros! Que dê de comer às crianças pobres!

Eu gostava de perguntar a muita dessa gente o que costuma fazer pelos pobres.
Se este homem decidisse gastar o seu tempo livre a ver televisão, ou em frente do computador, indiferente à miséria existente à sua volta, seja de pessoas, seja de animais, deixavam-no em paz. É essa a grande ironia. Quem resolve agir, raramente é bem visto. Talvez porque recorde às pessoas que existe algo chamado consciência…

Em 2003, o escritor colombiano Fernando Vallejo, que ganhou um prémio no valor de cem mil dólares, também chocou as almas dos moralistas de pacotilha ao doar a totalidade do dinheiro para ajudar os cães de rua da América do Sul. Para ajudar os cães? Num país onde há tanta pobreza?
Decidisse o escritor desbaratar o valor do galardão em orgias de sexo e álcool, ou fosse um colecionador de automóveis e comprasse uns quantos, apenas para os ter na garagem, não ajudava ninguém. E, no entanto, os moralistas limitar-se-iam a encolher os ombros e a dizer: o dinheiro pertence-lhe, faz dele o que quiser!

Gente dessa, que, ao abrigo da sociedade de consumo, critica quem se dedica aos animais abandonados, esquece-se que ajudá-los é ajudar as pessoas, ainda que indiretamente. É preciso olhar mais longe e estabelecer ligações. Que seria deste nosso mundo cheio de cães e gatos esfomeados pelas ruas, infestados por parasitas e doenças? Um perigo gigantesco para a saúde pública! E reuni-los e abatê-los também custa dinheiro e carece de infraestruturas. Por isso, deem graças a Deus por existirem pessoas que se dedicam a eles!

Fazer o bem porque se sofre com o sofrer de outros seres, seja em que dimensão for, não deve ser nunca objeto de crítica, principalmente por quem se acomoda na sua vidinha pasmaceira!

Na sua encíclica Laudato si’, o papa Francisco mostra-nos como a proteção da Natureza e o respeito pela criação divina (que inclui os animais) estão indiretamente ligados à justiça social, pelo que ajudam a erradicar a pobreza.
Nem duvidem!


2 comentários:

Vespinha disse...

Fico doida com essas comparações. Umas coisas não substituem as outras...

Cristina Torrão disse...

É verdade, Vespinha.
Tudo desculpas para se ficar insensível ao sofrimento animal :(