Em todos os momentos da História, seja na Antiguidade, na Idade Média, ou no nosso tempo, são as mesmas paixões e os mesmos desígnios que inspiram os humanos. Entender a História é entender melhor a natureza humana.

13 de dezembro de 2014

Os Segredos de Jacinta - Excertos (4)




Arribavam os cativos mouros ao adro da igreja, três dezenas de homens, mulheres e algumas crianças, que Soeiro Pais Mouro e Mem Moniz de Gondarém tencionavam manter como escravos domésticos ou de lavoura. E ofereceriam, com certeza, alguns aos seus cavaleiros mais chegados.

O povo olhava horrorizado para aquela gente, envolta em trapos e a quem o pó e a sujidade da marcha davam uma compleição ainda mais miserável e mais escura. Era então esta a catadura dos pagãos, pareciam constatar os olhos que os miravam, assim eram aqueles que renegavam os ensinamentos de Cristo! E só não os maltratavam, porque os fidalgos, desejosos de manter aquela mão-de-obra gratuita, velavam pela sua segurança. Ainda assim, alguns começaram a cuspir-lhes em cima.

Jacinta estremeceu àquele gesto. Trazia-lhe recordações que a levavam a identificar-se com aquela gente. Sentiu-se na pele deles, que se mantinham de cabeça baixa, um misto de revolta e tristeza no olhar. As crianças berravam, agarradas às mães, mas estas não tinham forças para as consolarem. Sujeitas a um sofrimento atroz, haviam desistido das suas emoções.



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