Em todos os momentos da História, seja na Antiguidade, na Idade Média, ou no nosso tempo, são as mesmas paixões e os mesmos desígnios que inspiram os humanos. Entender a História é entender melhor a natureza humana.

6 de janeiro de 2014

Os alemães e os foguetes


Os alemães são vistos como um povo ordeiro e disciplinado, mas não há regra sem exceção. O exemplo mais flagrante é o de Mallorca, local de férias para milhões de alemães. A própria comunidade alemã, nesta ilha espanhola, é enorme e organizam-se festas e orgias, em que se embebedam até à inconsciência. Outra exceção é a noite de Ano Novo, em que o alemão mais pacato se transforma num verdadeiro piromaníaco!

Enfim, sejamos coerentes: um bom fogo de artifício pertence a um reveillon que se preze. Mas o que se passa na Alemanha, nessa noite, supera todas as expectativas. Gastam-se cerca de cento e cinquenta milhões de euros (repito: cento e cinquenta milhões!) em foguetes, rojões e quejandos. Note-se que o lançamento de fogo de artifício não se encontra nas mãos das autarquias ou de empresas que organizam reveillons. Qualquer cidadão é autorizado a adquirir material pirotécnico, em qualquer supermercado.

Estabelece-se um dia para o início da venda, este ano foi no sábado, 28 de dezembro. Não será necessário dizer que a maior parte das pessoas se sentem incapazes de esperar pela meia-noite do dia 31. Durante três ou quatro dias, as explosões, os petardos e o assobio dos foguetes passam a fazer parte do quotidiano e sair à rua pode tornar-se num sobressalto. Os estrondos vão aumentando de intensidade, até culminarem numa verdadeira orgia, na noite de passagem de ano. E, a 1 de janeiro, as ruas das cidades e das localidades alemãs têm o aspeto da imagem seguinte:




Enfim, cada um tem o direito de se divertir como quiser. Mas toda esta euforia tem o seu preço. E não estou apenas a falar dos milhões de euros que chegariam para deixar os reformados e pensionistas portugueses em paz. Verificam-se sempre acidentes e incêndios, por vezes, até mortes. Por isso, muita gente é contra este hábito e há proibições, como não se poder usar o fogo de artifício em certos locais. Mas não são respeitadas. Além de não haver pessoal suficiente na Polícia para vigiar todas as infrações, nesta noite, há muita tolerância (a tal conversa das tradições).

Embora o meu marido e eu nos recusemos a gastar um cêntimo que seja neste tipo de material, o barulho não nos incomoda. O mesmo já não se pode dizer da nossa cadela. Cães e gatos, em geral, entram em verdadeiro stress, que vai do ligeiro medo ao pânico total. Também outros animais, inclusive nos zoos, têm problemas. Li, por exemplo, sobre espécies de pássaros tropicais, no zoo de Hamburgo, que são metidos em salas à prova de som, pois entram num pânico tal, que chegam a morrer de ataque cardíaco. Para outros, acendem-se todas as luzes e holofotes do zoo, a fim de que não se assustem com os clarões dos foguetes.

No início, a Lucy ficava mais ou menos calma, mas tem vindo a piorar com a idade. E nós assustamo-nos, quando a vemos a tremer e a arfar horas e horas seguidas, sem comer, nem sequer fazer as necessidades (passa um dia inteiro assim). Como completou dez anos no Outono (o que, para um cão, já começa a ser uma idade respeitável), resolvemos, este ano, poupá-la ao stress. Foi essa a razão que nos levou à ilha Föhr, já que se dizia que nas ilhas do Mar do Norte há apenas uma sessão de fogo de artifício, oficial, na maior localidade, à meia-noite.

Constatámos que não é bem assim. Mas foi, de qualquer maneira, muito mais sossegado do que no continente. Conto mais pormenores num próximo post.


2 comentários:

Sara disse...

A minha cadela tinha imenso medo de fogo de artificio (e de barulhos similares tipo trovoadas...), ficava com os olhos esbugalhados, a tremer e a com a língua de fora a arfar como se fosse ter um ataque...Tínhamos de ficar junto dela para a acalmar.
Com dez anos já esta idosa :) a minha tinha doze...Pessoalmente não sou festivaleira, passava bem sem a passagem de ano

cumps!

Cristina Torrão disse...

A Lucy chegou a um ponto em que nada a acalma :(
Enfim, temos mais um ano de pausa ;)