Em todos os momentos da História, seja na Antiguidade, na Idade Média, ou no nosso tempo, são as mesmas paixões e os mesmos desígnios que inspiram os humanos. Entender a História é entender melhor a natureza humana.

10 de dezembro de 2013

A infanta D. Teresa (1)

No meu post evocativo da morte de D. Afonso Henriques, fazia referência a uma filha do nosso primeiro rei:

Afonso pensava muito em Teresa. Sabia-a feliz e segura na Flandres. Mas, de todas as mulheres que amara, era sem dúvida daquela filha que ele sentia mais saudades e seria ela quem mais gostaria de ter a seu lado.

De facto, Afonso Henriques parece ter tido uma relação muito especial com uma de suas filhas, que, por ironia do destino, ostentava o nome da avó: Teresa. Esta infanta permaneceu ao lado do pai até aos trinta e três anos, o que não era comum na época. As princesas costumavam casar muito cedo, algumas, ainda crianças.

Embora o Professor Mattoso, na sua biografia de D. Afonso Henriques (Temas e Debates 2007), não refira o assunto, o Professor Freitas do Amaral, o primeiro a escrever um livro deste género (Bertrand 2000), pergunta-se que razões teria havido para que a infanta fosse mantida durante tanto tempo na corte paterna.

No romance, esforcei-me por dar uma versão verosímil. Mas há uma outra história curiosa à volta de Teresa: acabou por casar com Filipe da Alsácia, conde da Flandres, que conhecera na cidade do Porto. Acontece que neste seu primeiro encontro, Filipe da Alsácia era ainda casado. Mas, assim que ficou viúvo, sete anos depois da sua passagem pelo Porto, pediu a infanta em casamento, pelo que enviou uma frota a Portugal apenas para a ir buscar.

Também se podem especular sobre as razões que levaram a este casamento, pois não existem fontes que o expliquem. Alguns historiadores admitem que o conde da Flandres tenha ficado bem impressionado com a figura e o porte da infanta, que se sabia ser culta, já que o próprio Afonso Henriques a apontou como sua sucessora, caso o infante D. Sancho falecesse sem filhos.

Eu gosto de acreditar na ideia de um amor à primeira vista, uma paixão a que Teresa teve de renunciar, sem imaginar que Filipe da Alsácia enviuvaria sete anos depois.

Certo de que completara a sua missão neste mundo, Afonso redigiu o seu testamento naquele mesmo ano, deixando grandes quantidades de dinheiro a obras pias. Estava convencido de que não aguentaria mais um Inverno. Sem se poder mover, os músculos iam-se-lhe mirrando e ele ia perdendo o apetite.
Mas não sobreviveu apenas àquele Inverno e a estação fria tornou-se uma tortura para o velho monarca, que ficava, então, mais sujeito a febres e, muitas vezes, não se conseguia aquecer, embora lhe pusessem na cama tijolos quentes embrulhados em mantas. Nesses tempos difíceis, Teresa era o seu maior consolo. Sentia-se tão dependente do carinho e dos cuidados da filha, que se lhe assomava impossível viver sem ela.
Ao mesmo tempo, a infanta fazia-lhe pena. O seu olhar perdera a energia de outros tempos e fixava-se muitas vezes numa distância imaginária, alheio ao que se passava à sua volta. Afonso sabia então que ela recordava a semana do Porto, esforçando-se por manter vivos os instantes que partilhara com Filipe da Alsácia, desde o primeiro ao último dia. Por mais que o velho rei desejasse ter aquela filha a seu lado, chegava a achar conveniente arranjar-lhe um esposo, que a fizesse olvidar de vez o conde da Flandres. Mas, quando lhe propunha tal, a infanta já nem se dava ao trabalho de recusar. Suspirava, simplesmente, e afagava as mãos do pai.



3 comentários:

Rita disse...

"Eu gosto de acreditar na ideia de um amor à primeira vista, uma paixão a que Teresa teve de renunciar, sem imaginar que Filipe da Alsácia enviuvaria sete anos depois."
Também gosto de acreditar nessa versão :)

Cristina Torrão disse...

Beijinho, Rita :)

Rita disse...

Obrigada!
Beijinho :)