Em todos os momentos da História, seja na Antiguidade, na Idade Média, ou no nosso tempo, são as mesmas paixões e os mesmos desígnios que inspiram os humanos. Entender a História é entender melhor a natureza humana.

8 de abril de 2013

Naquele Tempo (17)


É verdade que em Portugal não havia corrida de touros por ocasião dos doutoramentos, como em Salamanca. Mas os presentes e banquetes que o graduado tinha de oferecer deviam ser suficientes para os arruinar por completo ou endividar por muitos anos.

Eis o que prescrevem os estatutos de 1431 (CUP, doc. 949). Na atribuição do grau ao bacharel, este tinha de oferecer luvas aos reitores, a todos os graduados e aos lentes, e dar de uma a três coroas de ouro à Universidade, outro tanto ao mestre ou doutor, e uma ao bedel. O licenciado tinha de oferecer doces (confectiones) e vinho, pagava três coroas de ouro à Universidade, outras tantas ao padrinho e a cada um dos doutores, além de dar uma faixa a cada um dos doutores e uma veste condigna ao bedel. O mestrando tinha de se apresentar no acto com uma veste «óptima e honesta» e convidava os presentes para uma refeição (collatio) antes do acto; oferecia a cada um dos quatro mestres um barrete, um cinto, um punhal e um par de luvas; mais um barrete, além de «o que quisesse», a cada um dos doutores; no fim pagava um banquete. Enfim, o doutorando tinha de ir vestido com uma capa de bom pano, forrada de boas peles no Inverno e de seda no Verão, dava vestes novas ao padrinho, oferecia ao bedel uma boa veste forrada de pano e com capuz, pagava cinco coroas de ouro à Universidade, presenteava todos os doutores e mestres, mesmo de outras faculdades, o chanceler e subchanceler com barretes e luvas, e todos os graduados, oficiais e pessoas notáveis com luvas; pagava também as suas próprias insígnias - o barrete e o anel -, e convidava para um banquete todos os graduados, mesmo os doutores de outras faculdades e todos os oficiais da Universidade.

A estas despesas acresciam ainda: para o mestrando, o pagamento dos músicos, sobretudo dos trombeteiros, que acompanhavam o cortejo antes da cerimónia da concessão do grau; para o doutorando, o cortejo que o levava de sua casa até à catedral, para aí ouvir a missa solene do Espírito Santo, e daí seguia até à Universidade; e, depois do banquete, o cortejo a cavalo que percorria toda a cidade até ao Mosteiro de São Domingos, onde as festas terminavam com o ofício solene das vésperas na capela de Santa Maria da Escada. Provavelmente o doutorando tinha ainda de presentear os celebrantes da missa na catedral e os dominicanos que cantavam as vésperas em São Domingos.

Capítulo O suporte social da Universidade de Lisboa-Coimbra (1290-1537), pág. 402


2 comentários:

Ana Lemos disse...

Eh laaaa…ainda hoje os custos de frequentar um curso universitários são elevados mas na época “esticavam-se”!! Conforme fui lendo ia ficando cada vez mais surpreendida… E com a oferta de tantas luvas, se calhar foi assim que nasceu o termo figurativo “luva” para suborno…

Cristina Torrão disse...

Sim, Ana, também pensei nisso no que respeita ao "pagamento de luvas" ;)