Em todos os momentos da História, seja na Antiguidade, na Idade Média, ou no nosso tempo, são as mesmas paixões e os mesmos desígnios que inspiram os humanos. Entender a História é entender melhor a natureza humana.

6 de abril de 2013

Corja Maldita




Aquele que ficou conhecido como Marquês de Pombal não foi apenas responsável pela reconstrução da baixa lisboeta, também contribuiu para que o papa Clemente XIV suprimisse, em 1773, a Companhia de Jesus. Conseguiu, inclusive, envolver os Jesuítas no processo dos Távora, autores de uma conspiração que culminaria num atentado contra a vida d'el-rei D. José.

A realidade não terá sido bem assim, D. José talvez nem fosse o alvo principal do atentado. Mas não vou revelar aqui pormenores da maquinação, explicada neste livro, um romance histórico construído de maneira pouco convencional.

O narrador é, nada mais, nada menos, do que o diabo, situado no nosso tempo, mas, como criatura imortal, recorda aquilo a que assistiu nesses anos conturbados que se seguiram ao grande terramoto de Lisboa. Como seria de esperar (ou não), o diabo não é tão mau como o pintam. E os capítulos que vão narrando os acontecimentos são entrecortados por diálogos muito interessantes, que servem de comentário a esses mesmos acontecimentos, vistos de duas perspetivas bem diferentes. O diabo dialoga com a alma penada do padre Gabriel Malagrida, um Jesuíta que terá previsto o terramoto (assunto já tematizado por Pedro Almeida Vieira, em O Profeta do Castigo Divino). Claro que Malagrida culpa a vida de pecado da nossa capital pela catástrofe que atingiu a cidade. Por essas e por outras, o Marquês de Pombal criou por ele tão grande ódio, que conseguiu que o "profeta" fosse queimado como herege.

O tom irónico é uma constante neste livro interessante, mas, a meu ver, não muito adequado a quem não seja fã de temas históricos.

15 comentários:

Unknown disse...

OLá Cristina
quando vi o título pensei que era um livro sobre o governo português :)
Agora a sério: Deus, o Diabo, os Jesuítas e o Marquês. Vou escrever aqui uma coisa que faria muita gente dar-me uma sova. Mas é o que penso: desses quatro, o único que fez algo por Portugal foi o Marquês. Pactuou com o Diado quando cometeu atrocidades; mas foi mais que um Deus para as finanças portuguesas da época.
Quanto aos jesuítas, conheço alguns que são verdadeirosa heróis; outros, como António Vieira, foram heróis da nossa história; mas que andaram sempre à sombra de interesses instalados, lá isso...
Mas adiante, não vale a pena ser mauzinho, até porque agora temos um Papa Jesuíta de inspiração franciscana :) Qualquer dia aparecem por aí os Cavaleiros do Templo... :)

Cristina Torrão disse...

Olá Manuel
sim, o título é chamativo e podia ser aplicado em muitas situações ;)
Gostei do teu comentário, não tenho dúvida de que o Marquês de Pombal foi um grande estadista e de que os Jesuítas (ou muitos deles) tenham abusado do seu poder. Mas conheço mal a História, tanto do primeiro, como dos segundos. Por isso, achei interessante estes dois livros de Pedro Almeida Vieira, a fim de aprender um pouco sobre a época focada. E ele apresenta, tanto uns, como outros, numa linguagem cheia de ironia.
Quanto aos Cavaleiros do Templo... Talvez não andem longe, não. Uma pessoa já acredita em tudo ;)

Bartolomeu disse...

Bom, os Cavaleiros do Templo também se aproveitaram das posições que detinham junto dos monarcas, influenciando as decisões que tomavam e retirando largos proveitos.
Ao longo dos tempos, a "história" tem conhecido poucas variantes; os que podem e têm esperteza para isso, encostam-se ao poder, dominam subreptíciamente e retiram proveitos quanto podem.

Unknown disse...

Sem dúvida, Bartolomeu. Eu quando falei dos Templários foi mesmo pensando nos oportunistas que eles foram... Na verdade, não há exceções quando se fala das Corjas da História.

Bartolomeu disse...

É tristemente verdade o que afirma, Manuel.
Quanto ao Marquês, do pouco que se conhece da sua vida privada, percebe-se fácilmente que para além de um déspota, foi sobretudo um visionário, um homem que aproveitou a experiência, o exemplo que bebeu nas fontes além fronteiras e, usando o poder que alcançou e servindo-se das circunstâncias, refundou um país, qualificou-o, em suma ... iluminou-o.
Coisa que os políticos pós-revolução, aprenderam a não fazer.
Pergunto, quais serão os estranhos poderes que fazem com que nos manetenhamos uma nação independente?!

Cristina Torrão disse...

A questão da nossa independência, ao longo dos séculos, é, de facto, surpreendente.

Bartolomeu disse...

Não é, Cristina?!
Quando olhamos para a Nossa História, tão repleta de episódios, tanto imensamente "altos" como degradantemente "baixos", ficamos abismados - comparativamente com outras "Histórias" - com esse facto.
Sempre que reflicto sobre este assunto, concluo (inconclusivamente) que devemos pertencer a um ramo da Humanidade com características e desígnios Universais, muito especiais.

Unknown disse...

José Saramago, um dos maiores visionários do nosso tempo, teria razão quando imaginou uma jangada de pedra que se desligasse da Europa pelos Pirineus?
Não seria isso a nossa solução? Embarcariamos numa nova Nau Catrineta que nos levasse de regresso ao Oceano? Não seremos nós mais MAR que EUROPA?

Bartolomeu disse...

A "Jangada de Pedra" de Saramago, foi uma metáfora criada com base na entrada de Portugal para a então CEE, hoje União Europeia.
Ou seja; Saramago profetisava o desmembramento, ou o despegamento da penísnsula, do resto da Europa.
Algo que só aqueles que visionaram imediatamente o lucro que muitos vieram a obter e que hoje estamos todos a pagar, não quiseram admitir.
Este foi mais uma des épocas históricas em que entraram no país fortunas incomensuráveis que imediatamente se esfumaram.
No tempo do ouro e dos diamantes do Brasil, esfumaram-se em palácios no Minho em igrejas e conventos monumentais. As fortunas da UE, esfumaram-se em montes no Alentejo, em jipes BM, Audi, Mercedes, etc.
Mesmo que não queiramos temos de conferir ao Marquês... ao conde de Oeiras, o mérito de ter criado as bases e de as ter desenvolvido, para que o país se tornasse sustentável económicamente, para que acabasse a indigência, para que, em suma, adquiríssemos como povo a auto-estima e a identidade que afinal merecemos possuir.
O Marquês foi, quanto a mim um Homem com visão Social e de Estado, que percebeu cedo ter de impôr um lei de ferro, para conseguir que os seus projectos se efectivassem. É claro que para isso muitas das suas decisões e dos seus actos, visto à luz do entendimento actual, foram desumanos. No entanto os governos de hoje, acabam por apresentar saldos tanto ou menos dígnos que os do Marquês.
E a culpa continua a morrer solteira.

Unknown disse...

Bartolomeu, eu sou um confesso admirador do Marquês mas vou fazer um pouco o papel do diabo, porque estou a gostar da "conversa".
O Marquês teve umpapel brilhante a vários níveis (criação das companhias de comércio, proteção às indústrias, proteção ao vinho do Douro, dinamização do comércio brasileiro, etc.). Acima de tudo, foi dos poucos que apostou nos setores produtivos da economia.
No entanto, tenho muito receio destes discursos apologéticos que nós estamos aqui a fazer porque uma das tentações tipicamente portuguesas é agarrar estes exemplos de totalitarismo para os encararmos de forma sebastianista. E ninguém pode duvidar que o Marquês, hoje, seria apelidado de anti-democrático ou totalitário.
A questão perece-me, portanto, passar por isto: ele foi a solução para aquela época. seria solução para agora?

Cristina Torrão disse...

Mas que conversa interessante aqui se criou! Também não me admira, com estes dois senhores ;)

Bem, vou-me intrometer. Pegando na questão da nossa independência, ao longo dos tempos, trata-se de um fenómeno, em certos momentos, difícil de explicar. Todos os outros reinos ibéricos foram engolidos por Castela, menos nós. E, afinal, houve alutras em que isso esteve por um triz. Porque não aconteceu? Pela nossa bravura? Ou pelo estranho "receio" que parece apoderar-se dos espanhóis, sempre que estão a chegar a vias de facto? Essa hesitação começou logo com Afonso VII, o primo de Afonso Henriques. Aliás, Afonso VII, apesar de ter sido Imperador de toda a Hispânia, não é muito bem visto no país vizinho, pois é considerando frouxo nesse assunto, quase que é visto como o culpado pela formação de Portugal.

Depois o Manuel pergunta se não seremos mais MAR que EUROPA. Na verdade, parece que temos uma certa dificuldade em nos integrarmos nesta Europa, que, aliás, está a ser construída de maneira muito discutível. Não se estão a respeitar as características dos diferentes países. Talvez seja melhor mesmo optar pela "solução" de Saramago ;)

O Marquês de Pombal (que foi também Conde de Oeiras, título, aliás, utilizado neste livro de PAV, pois ainda não era marquês) foi, sem dúvida, decisivo no seu tempo. Mas não seria solução para agora, a menos que dominasse alguns aspetos do seu caráter ;) Enfim, nasceu noutra época, não sabia o que era o regime democrático, tal como o conhecemos.
Por outro lado, será esta nossa democracia a melhor solução?

Cristina Torrão disse...

Acabo de ver um interessante Cartoon de um artista sérvio, vencedor do XV PortoCartoon. Expressa bem o que o capitalismo desenfreado está a fazer aos valores da nossa democracia, baseados na trilogia "Liberdade, Igualdade e Fraternidade".

Aqui:
http://blogtailors.com/6605220.html

Bartolomeu disse...

Aquele rapaz do Nuorte que faz palestras em tudo o que é universidade; o Miguel Gonçalves, na perspectiva de icentivar a capacidade de iniciativa dos jovens-sem-futuro, justifica a expansão marítima de 500 dizendo: a norte tínhamos os ingleses, a este os espanhois e a sul os árabes, só nos restava fugir para o mar.
;))))
Tenha santa paciência!!!
O rapaz esqueceu-se que desde D. Dinis existia o desígnio da expansão, tendo por primeiro objectivo a evangelização do mundo além-europa. E que o Rei Trovador foi casado com a introdutora do culto ao Espírito Santo em Portugal, ou Porto Cal, ou Porto do Cálix e que esse espírito espansionário, a famosa Diáspora Lusitana teve continuidade até à "Ínclita Geração" e à escola de marinhagem do Infante, em Sagres, onde se reuniam os mais sábios da época, em matéria de cartografia, de astronomia e de navegação.
Agora... o que fizemos, o uso que demos a tanto saber e a tanta coragem e arrojo é que lança uma mancha negra sobre uma tela que deveria brilhar com todo o explendor.
Mas... parece ser esta a nossa natureza; ou então, ainda falta cumprir-nos...
;)

Unknown disse...

Cristina
toda a História de Portugal parece estar determinada por uma série de pequenos/grandes acasos. É estranho que um país tenha nascido da ação de condes franceses casados com castelhanas e de onde nasceu um príncipe português. Uma salada destas só podia resultar em algo ainda mais estranho: um país que nasce de uma revolta de um teenager contra a própria mãe.
Mais tarde, asseguramos a independência aclamando um, rei ilegítimo (D. João I) com o apoio dos ingleses.
Mais tarde ainda ressuscitamos a independência perdida, em 1640, em parte devido a outro acaso: a revolta da Catalunha. Filipe IV só permitiu a Restauração porque os espanhóis estavam "distraídos" com os terríveis catalães.
Na verdade, somos um país de acasos. E hoje somos um país "ao acaso" :)
Bartolomeu:
Esse "rapaz do Nuorte" está a fazer uma figura um pouco estranha, para não dizer mais... encarar a expansão como fuga é, no mínimo, ridículo.
Como dizes, a expansão comercial já vinha de muito antes. Por outro lado, nesse tempo, os Ingleses queriam lá saber dos mares; estavam mais interessados em matar franceses :)

Bartolomeu disse...

Concordo, Manuel. Mas não coloco o início de tudo (e aqui não me refiro somente à nacionalidade) com o 1º Rei Afonso. quanto a mim, o nosso fado começou antes até de Viriato esse Homem que reza a lenda, nasceu da união entre um deus e uma humana. Para mim, tudo começou com os as migrações de povos avulso, vindos de vários pontos da Ásia, e que, depois de percorrer todo o norte do continente europeu, matando incendiando, saqueando, se estabeleceram na península.
Foi o sangue desses, misturado com o dos árabes, dos africanos e dos Judeus (que mais tarde se lhes juntou em menor quantidade é certo, mas ainda hoje corre nas veias de muito boa gente) que deu origem ao que atualmente somos, quer a nível sociológico, como intelectual.
Na verdade, somos europeus, mas diferentes de qualquer outro do mesmo continente, mas de outro país.