Em todos os momentos da História, seja na Antiguidade, na Idade Média, ou no nosso tempo, são as mesmas paixões e os mesmos desígnios que inspiram os humanos. Entender a História é entender melhor a natureza humana.

3 de outubro de 2012

Naquele Tempo (9)




A citação de hoje foi-me inspirada pelo surgir de um suposto evangelho, onde se poderá concluir que Jesus Cristo foi casado. Não vou pôr a sua credibilidade em causa, deixo isso para os peritos, mas aproveito para lembrar que o celibato eclesiástico não existia nos primeiros séculos do Cristianismo. A situação da Península Ibérica, no início da Idade Média, é referida pelo Prof. Mattoso, nas páginas 58 e 59, inseridas no Capítulo: “Barregão – barregã: notas de semântica”:

Por outro lado, parece também certo que a prática da igreja visigótica admitia a vida conjugal dos clérigos. É o que se deduz dos cânones 42 e 44 do concílio IV de Toledo, do ano 633 (…)
O casamento dos clérigos é, portanto, legítimo se a mulher não for viúva, repudiada ou prostituta, e se for celebrado com o acordo do bispo (…)
É possível, no entanto, que o casamento ou concubinato do clero fosse uma matéria altamente controversa, como parecem dar a entender outras prescrições conciliares e as situações que elas tentam reprimir, aparentemente sem grandes resultados. Não é provável que a situação de desorganização e conflito que se seguiu à invasão árabe e se manteve até ao século XI fosse muito propícia à generalização do celibato eclesiástico. De facto, ainda no concílio de Compostela de 1056 aparece uma prescrição acerca dos presbyteris et diaconibus coniugatis.

Mesmo depois da Reforma Gregoriana, no século XI, que instituiu, definitamente, o celibato eclesiástico, os hábitos custaram a mudar. Ainda no tempo de D. Dinis, séculos XIII/XIV, se tentava pôr na ordem os padres que, na impossibilidade de casarem, continuavam a manter barregãs, como um direito que lhes assisitisse. E, ao contrário do que se pensa, o povo medieval era muito condescendente nesses casos.


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